Um tempo de sequidão

Agosto chega ao fim, e com ele se vão algumas dores, alguns desgostos, alguns amores. A chuva ainda não caiu sobre a terra, o dia ainda está cinzento, a fumaça e a sequidão ainda dominam o ambiente, mais ainda há uma esperança, ainda há alguns Ipês floridos; sua beleza, tão passageira ainda pode ser vista pelas ruas da cidade.

Mais aos poucos, eles também se vão, e o que ontem era um espetáculo em cada esquina, hoje já se torna mais raro e apenas algumas poucas flores ainda insistem em nos presentear.

E o dia vai passando, o ar continua pesado pela poeira, os pássaros parecem não querer cantar, a vida parece estar parando aos poucos, todos estão implorando por umas gotas, apenas alguns respingos já seriam de uma alegria tamanha.

Porém, nesses dias de um cinza deprimente, algo me dá esperança, me lembro do texto onde o salmista fala da sua alma, que anseia por Deus mais que a terra seca anseia pela chuva, e sou levada a pensar em duas coisas: primeiro, que a sequidão que atravessamos é apenas passageira, assim como o Ipê que se vai com o mês de agosto, a sequidão e a rachadura na terra aos poucos vai sendo substituída pelo verde exuberante; e com nossa alma não é diferente, basta uns respingos da maravilhosa Graça de Deus para que a cor volte ao nosso mundo; a presença de Deus tem esse poder, ela dá vida e cor a qualquer deserto. Percebo também que o nosso desejo pela chuva não pode acabar com a chegada dos primeiros respingos, o desejo pela presença de Deus precisa ser eterno, nossa alma precisa ansiar sempre mais dessa chuva, ou então corremos o risco de nos vermos novamente secos, rachados, machucados.

Mais em breve as lindas flores amarelas se vão, e a beleza da vida em meio à sequidão, é substituída pela beleza das flores mais coloridas, dos pássaros cantando, do céu azul, dos cheiros e dos gostos mais diversos. E o que antes era só um sinal de esperança, se torna um tempo de alegria e jubilo. Por que o Ipê me lembra um Deus que está comigo, mesmo em meio a minha sequidão, e a chuva, esta sim, é a presença de Deus desejada, manifesta na minha vida, que vem para molhar a terra do meu coração, para trazer frutos, flores, cor e sentido.

Que a nossa alma continue cada dia desejando essa presença, mais que a terra seca deseja a chuva, e que a presença de Deus continue a inundar nossos corações, por que “aparecem as flores na terra, e o tempo dos pássaros cantarem é chegado”.

Tassiane P. Kreitlow