No entanto, está chegando a hora, e de fato já chegou, em que os
verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade. São estes os
adoradores que o Pai procura.Deus é espírito, e é necessário que os seus
adoradores o adorem em espírito e em verdade". João 4:23-24
O cristianismo brasileiro tem vivido uma fase onde muito se
tem falado sobre adoração, sobre ser adorador. Muitos cantores gospel tem
pregado aos quatro cantos do país a necessidade de adorar a Deus de forma
verdadeira. Fala-se de adoração extravagante, de adoração espontânea, de adorar
com o espírito, e vários outros termos, mas, por outro lado, vemos cada vez
mais o crescimento do mercado gospel, os adoradores vendendo seus Cd’s de cânticos
espontâneos ao mundo todo; grandes nomes do cenário gospel são constantemente
vistos nos programas televisivos, shows evangélicos arrastam multidões
enlouquecidas. Diante desse cenário, nos resta uma dúvida: será que tudo isso
que está ocorrendo é adoração a Deus? Deus estaria mesmo atento a toda
expressão de louvor e adoração que fazemos?
Antes de qualquer coisa, é necessário
definirmos o que significa adoração na bíblia. Fontains em seu artigo “O que
significa adoração” diz que a palavra adoração vem de um termo no hebraico Hitawa que significa prostar-se ou
curvar-se. Vemos muitos textos na bíblia que fazem referencia a adorar e prostrar-se
ao mesmo tempo, como por exemplo, o salmo 95 no versículo 6 que diz: O,vinde, adoremos e prostremo-nos;
ajoelhemos diante do SENHOR que nos criou. Outra expressão que também
é frequente na bíblia é encurvar-se com o rosto em terra. Ninguém se
encurva com o rosto em terra simplesmente por que a outra pessoa merece
respeito, ou por que a amamos mais que tudo, essa atitude demonstra servidão,
em tempos mais remotos, prostrava-se diante dos reis, diante de senhores; prostrar-se
com o rosto em terra significa servidão, total dedicação ao seu senhor; quem se
prostra, faz isso por causa de alguém que lhe é superior.
Definir adoração em nossos dias é um tanto
complexo, não é um assunto muito fácil de tratar, e em uma sociedade tão egoísta
e autossuficiente como a que vivemos é difícil entendermos o que realmente
seria adoração, afinal, pouquíssimas vezes teremos a necessidade de nos
curvamos diante de alguém. A verdadeira adoração vai muito além de ritos ou
gestos, de mantras repetidos de forma já mecânica, de canções aprendidas a
anos, de cultos com ou sem manifestações miraculosas. Segundo Shedd, adoraçao “num sentido mais restrito,
significa uma atribuição de honra e glória a quem ou ao que o adorador
considera de valor supremo. Seria veneração ou devoção expressa a Deus em
público ou pessoalmente”
É necessário nesse ponto fazermos um
paralelo entre a adoração de nossos dias e o texto de João 4. Nesse capitulo de
João a partir do versículo 19 a mulher samaritana começa a interrogar Jesus
sobre onde seria o local certo para adoração, se no monte onde os samaritanos
adoravam ou se no templo onde os judeus adoravam. Jesus intriga essa
mulher com sua resposta, dizendo que nem no monte nem no templo, pois Deus
estaria a procura de pessoas que o adorassem em Espírito e em Verdade. Mais
nesse ponto o que Jesus queria dizer com adorar em espírito e em verdade? A
verdadeira adoração vai além de locais próprios para este fim, ou de pessoas
separadas para tal afazer, adorar não depende do local, não depende da
congregação a que pertencemos, não depende do ministro de louvor que está na
frente da igreja. A verdadeira adoração começa no espírito daquele que adora.
Shedd ainda continua sua fala sobre adorar dizendo que:
Expressões de adoração como as aqui mencionadas caracterizam as formas
de cultuar, e não medem a realidade ou grau de
espiritualidade do adorador. Qualquer que seja a expressão do culto ou rito
como veículo de adoração, a sua forma é externa, mas a atitude do coração é
interna, muitas vezes oculta da própria percepção do adorador.
Outro fato interessante que notamos em
nossos dias são canções de adoração que nao passam de repetições de frases de
efeito, de elogios repetitivos a Deus, de expressões que geralmente são
repetidas como verdades, mais que não são nem de longe analisadas por quem as canta.
Faz-se dos cultos de louvor e adoração uma longa cantoria, que tem começo mais
que muitas vezes parece não ter fim, canções que muitas vezes parecem-se mais
com mantras de seitas hindus e realmente não expressam a atitude de prostrar-se
com o coração diante Daquele que merece toda adoração.
Deus conhece nossos corações, Ele sabe
melhor que nós mesmos o que levamos em nosso intimo. Atitudes de adoração
precisam expressar a realidade do nosso ser, não necessitamos repetir frases de
efeito para Deus, o próprio Jesus advertiu os fariseus no capitulo 6 de Mateus
sobre as repetições sem sentido: “E quando orarem, não fiquem sempre repetindo
a mesma coisa, como fazem os pagãos. Eles pensam que por muito falarem serão
ouvidos.”
Algumas musicas que cantamos em nossos
cultos ou ouvimos em nossas casas se encaixam perfeitamente no que Jesus
disse ao fariseus sobre repetirem a mesma coisa, um exemplo são os atuais cânticos
espontâneos de adoração onde o cantor/adorador passa grande tempo repetindo a mesma
frase ou palavra. Um exemplo dessas musicas, que não é único, é a canção
Recompensa do Pastor Antonio Cirilo onde ele repete a expressão “ Eu me rendo”
pelo mínimo cinquenta vezes, durante quase dez minutos. Não quero aqui
julgar a intenção do coração daquele cantor/adorador, mas, será que nós ao
repetirmos tal musica estamos realmente adorando a Deus em espírito e em
verdade? Será que estamos realmente rendidos diante de Deus?
Adoramos a Deus não por que ele precise de
nossa adoração, Deus não será menos Deus se não o adorarmos, precisamos ter
atitudes de adoração por que foi para isso que fomos criados. Deus não precisa
que fiquemos bajulando-o, conferindo-lhe elogios desnecessários, nossa adoração
não deve ser repetitiva e cansativa, adoramos a Deus pelo que ele é e pelo
simples fato de termos sidos criados com esse propósito, conforme Grudem
diz:
“...Deus não precisava de nós ou do restante da criação para nada.
Todavia, nós e o restante da criação o glorificamos e lhe trazemos alegria.
(...) Deus não nos criou porque estivesse solitário ou porque precisasse de
comunhão com outras pessoas _ Deus não precisava de nós por razão nenhuma. Não
obstante, Deus criou-nos para a sua glória. (...)
Mediante tudo que foi exposto até aqui
podemos ter a certeza de que a verdadeira adoração que Deus deseja de nós, não
é o show do grande cantor gospel, não é a nossa repetição de palavras sem
sentido, muito menos o culto com ou sem barulho que damos a Ele em nossas
igrejas. A verdadeira adoração requer coração contrito, como disse o salmista
Davi, “...esse o Senhor não desprezará”; se faz necessário adorarmos a Deus em espírito
e em verdade, com o coração realmente disposto e rendido a Deus. Precisamos
estar cientes que Deus não precisa de nossa adoração, é um privilégio nosso
termos sido criados com o propósito de adorarmos ao único e verdadeiro Deus.
Que nossos corações estejam realmente
quebrantados e rendidos ao Senhor.
Tassiane P. Kreitlow Souza