Há alguns dias venho pensando sobre os Cactos, essas plantinhas espinhentas, que nascem em terras muitos secas; já tive alguns deles, ou melhor, tive uma coleção deles, mais nas mudanças da vida eles acabaram se perdendo, mais não perdi minha paixão por essas plantas.
Quando adolescente costumava dizer que o Cacto era a planta que melhor me simbolizava, talvez pela beleza exótica, ou simplesmente pelos seus espinhos que o fazem intransponível, acho que naquela época não sabia ao certo o porquê de me identificar tanto com eles.
Uma pessoa comentou comigo essa semana que não gosta de cactos, que eles lembram para ela pobreza, feiúra, fome, a seca nordestina. Fiquei pensando, é engraçado como as coisas mudam de sentido, dependendo dos olhos de quem vê! O que para alguns é símbolo de pobreza, para mim é símbolo de força, de persistência, de luta.
Mas essa conversa despertou minha curiosidade e fui pesquisar. Descobri então que eles são capazes de viver até seis meses sem uma gota d’água sequer, utilizam seus espinhos como forma de se defender e de conseguir alimento, tem raízes longas para poder captar a maior quantidade possível de água e não possuem folhas para não perder água com a transpiração natural das plantas. Porém esses espinhos e essa sequidão que os rodeiam não os fazem feios, eles tem o poder de embelezar o pior deserto, suas flores, embora raras, são de uma beleza singular.
Com o passar do tempo, entendi porque me identificava com os cactos, me sentia como um deles, em uma terra seca, instransponível, feia. Mais havia sim beleza e havia força, havia perseverança, havia esperança. A expectativa da chuva me fazia lutar, a esperança de ser reconhecida e vista com beleza, me fazia buscar alimento, captar os pingos de chuva que caiam sobre mim, esperar o florescer.
Isso me leva a lembrar de outra coisa, de um texto de um dos profetas que fala que “como raiz de uma terra seca; não tinha beleza nem formosura e, olhando nós para ele, não havia boa aparência nele, para que o desejássemos”, esse texto fala de Cristo, ele também nao era visto com beleza, foi regeitado, foi ferido, mas “ele tomou sobre si as nossas enfermidades”.
Não importa se as pessoas não veem em nós o nosso potencial, não importa se as pessoas a nossa volta não entendem nossas intenções, podemos fazer de nossos espinhos algo positivo, podemos utilizar a seca da vida para crescer, para nos fortificarmos, esperemos e desejemos a chuva com ansiedade, pois ela virá.
Que possamos assim como o Salmista dizer: “Tu, ó Deus, mandaste a chuva em abundância, confortaste a tua herança, quando estava cansada.” E como os cactos, resistir a pior seca, certos que a beleza existe, que a chuva virá, e que nossas flores irão desabrochar.